Brenda Gusmão

A jornalista Maria Clara Pestre com a professora Itala Maduell e alunos da disciplina Carreiras Profissionais em Jornalismo. Crédito: Brenda Gusmão

Os alunos da disciplina Carreiras Profissionais em Jornalismo participaram, na segunda-feira, 1º de abril, da oficina “Técnicas de Checagem e Investigação Digital” com Maria Clara Pestre, editora de fact-checking da AFP Checamos. Durante a atividade, os estudantes tiveram a oportunidade de aprender e aplicar métodos como busca reversa e geolocalização, além de conhecer ferramentas utilizadas cotidianamente por jornalistas da agência. Organizado pela professora Itala Maduell, o encontro foi uma iniciativa para lembrar o Dia Internacional do Fact-Checking, celebrado em 2 de abril, e reforçou a importância das técnicas de verificação de informações como conhecimento fundamental a todos os jornalistas.

A proposta da oficina foi mostrar, na prática, como jornalistas podem verificar vídeos e imagens manipuladas ou fora de contexto. Antes dos exercícios, Maria Clara deu um panorama geral sobre a checagem de fatos no jornalismo. Para a editora, o que tornou o fact-checking uma ferramenta essencial é a velocidade com que conteúdos enganosos se disseminam no ambiente digital. Ela ressaltou que a desinformação, seja intencional ou não, pode ter consequências reais, como influenciar decisões políticas, colocar em risco a saúde e manipular a opinião pública.

– A mentira sempre existiu. Mas, com as redes sociais, você pode clicar e em poucos minutos, segundos até, milhares de pessoas no mundo podem ver aquilo. As técnicas de checagem são úteis para o dia a dia, para qualquer um, pois são importantes para as pessoas conseguirem diferenciar o que é verdadeiro do que é falso nas redes sociais, principalmente nós jornalistas. Muitas vezes, a apuração começa on-line e é importante conseguir fazer isto da forma mais precisa possível – afirmou.

O impacto e o potencial de viralização são critérios determinantes na seleção das peças a serem checadas. Segundo Maria Clara, assuntos como política, economia, saúde e meio ambiente são alvos frequentes de fake news em todo o mundo e têm um alto risco de dano. A jornalista destacou que, na maioria dos casos, a desinformação faz parte de uma tendência maior e não conhece fronteiras. Temas parecidos ganham contornos específicos a depender da região.

– A desinformação segue padrões globais, mas também é fortemente influenciada pelo contexto local. No Brasil, por exemplo, estamos passando por um aumento no preço dos alimentos, o que faz com que o tema seja frequente nos conteúdos desinformativos relacionados à economia. Quando falamos de saúde e meio ambiente, as tendências são semelhantes em diferentes países: desestimular a vacinação e negar a existência do aquecimento global. Mas o conteúdo específico que vai ganhar tração nas redes depende do que está acontecendo no país no momento – pontuou.

A verificação de conteúdos virais pode ser feita por meio de diferentes técnicas. Durante a oficina, uma das atividades práticas realizadas foi a simulação de uma verificação por meio da busca reversa de imagem. Os alunos receberam um link para checar uma foto supostamente atual, atribuída a uma manifestação a favor do governo. Com o auxílio de ferramentas de pesquisa de imagem do Google, a proposta era investigar a origem daquela fotografia. A partir da busca reversa, os participantes descobriram que, na verdade, se tratava de uma imagem antiga do Carnaval de Salvador, reciclada fora de contexto.

Maria Clara orienta alunos durante a oficina. Crédito: Brenda Gusmão

Os alunos também acompanharam exemplos reais de verificação feitos pela AFP, como uma montagem com imagens do Pão de Açúcar comparando o nível do mar em três datas diferentes (1880, 1910 e 2020), usadas para negar o aquecimento global. A checagem da agência demonstrou que as fotos eram verídicas, mas não comprovavam o argumento do post — o que caracteriza um caso clássico de desinformação sobre o aquecimento global por falso contexto.

A jornalista ainda alertou para os riscos da desinformação com uso de Inteligência Artificial (IA), especialmente com os avanços e a popularização de ferramentas que permitem a criação de imagens e vídeos realistas. Ela mostrou exemplos de deepfakes checados pela AFP e pediu aos alunos que identificassem fotos geradas por IA.

A aluna Carolina Araguez descreveu a oficina de checagem como um “aprendizado maravilhoso”. Para Carolina, a dinâmica interativa e a variedade de exemplos apresentados foram o destaque da programação, pois esclareceram os processos de verificação.

– O encontro foi muito produtivo, acredito que pelas atividades práticas. A oficina me fez enxergar o fact-checking como possibilidade de carreira para o futuro. Esta área do jornalismo é muito relevante por conta de todos os meios de comunicação e tecnologia que temos. Foi divertido fazer as atividades de checagem, perceber os detalhes e aprender que existem diferentes maneiras de fazer a verificação de fatos por conta própria e que a AFP também oferece materiais e cursos de formação para isto – conta.

Maria Clara também comentou sobre os desafios enfrentados pelos checadores diante das recentes mudanças nas políticas de moderação das grandes plataformas. Para ela, estas alterações influenciam o trabalho de checagem porque interferem no conteúdo que circula e ganha força nas redes sociais.

– Uma moderação mais permissiva para alguns tipos de conteúdo pode fazer aumentar o fluxo de desinformação. Essas mudanças também podem influenciar parcerias em andamento. Desde 2017, a AFP faz parte do programa de verificação de fatos independente da Meta em mais de 85 países. A decisão recente da empresa de encerrar o programa nos Estados Unidos afetou a AFP porque nossos jornalistas do país não trabalharão mais nesse projeto. Mas continuam com suas tarefas de verificação de outras formas, uma vez que a agência entende a checagem de fatos como uma prioridade – reiterou.