Brenda Gusmão, Enzo Krieger e Malu Carvalho

Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Ricardo Linhares. Crédito: Brenda Gusmão

Considerada uma das paixões dos brasileiros, a telenovela foi o tema da Aula Inaugural do Departamento de Comunicação, no dia 9 de abril, com a professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes, da Universidade de São Paulo (USP). O autor de novelas Ricardo Linhares, da TV Globo, participou do encontro e contribuiu com a prática da elaboração do formato. Durante a conversa, a pesquisadora fez um painel da história da teledramaturgia no país e mostrou como o gênero é representativo da modernidade brasileira. Ao final da discussão, Maria Immacolata anunciou que uma equipe da PUC-Rio fará parte do Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva (Obitel).

Criadora do Centro de Estudos de Telenovela (CETVN) e coordenadora do Centro de Estudos do Campo da Comunicação (CECOM), Immacolata defendeu o papel pedagógico e histórico das telenovelas no Brasil, assunto sobre o qual é pioneira em estudos no país. Segundo ela, as temáticas cotidianas representadas nas telas são capazes de gerar debates, um imaginário comum e a sensação de pertencimento.

– A novela tem uma capacidade específica de combinar o público e o privado, o político e o doméstico, a notícia e a ficção, o masculino e o feminino. É criar uma ambivalência e não ser um ou outro. O público pede verossimilhança, mas devemos olhar isso dentro da narrativa ficcional. Não se deve perder a questão do melodrama, que é a matriz da telenovela – afirmou.

De acordo com a pesquisadora, por conta do tipo de narrativa, a novela atingiu legitimação social, cultural e adquiriu credibilidade. Para ela, o gênero tem também um recurso comunicativo que pode trabalhar perto do real ou da ficção, o que permite o espectador ter a própria leitura da história.

– O espectador conhece a gramática do que acompanha há tanto tempo. Dentro da novela, há muitos sentidos para se captar, mas o espectador faz a própria história – disse.

Ricardo Linhares trouxe a experiência de mercado para a discussão. Ele descreveu a importância da inclusão no audiovisual brasileiro, um dos tópicos que a sociedade demanda nas telenovelas, especialmente nos dias de hoje. O autor também definiu a novela como um recurso comunicativo em todo o território nacional.

– É fundamental termos sempre em mente que não tratamos de uma bolha. Não é Rio nem São Paulo, chegamos ao Amapá, ao Acre e a lugares onde as pessoas não têm nenhum outro acesso a não ser a televisão. Temos que ter consciência de para quem falamos: 8 ou 80 anos, analfabeto funcional, de todos os estratos sociais e socioeconômicos. E não existe mais uma única televisão; são todas as telas – declarou.

A palestra “A teledramaturgia nos 75 anos da televisão no Brasil” lotou a sala K-102. Crédito: Enzo Krieger

A professora da Escola de Artes e Comunicação da USP apontou que, enquanto a cultura norte-americana foi moldada por uma narrativa com filmes e animação, área em que foram pioneiros, no Brasil, a cultura é audiovisual.

– Nossa cultura não é letrada: o audiovisual é quase uma segunda alfabetização. Por isto, a questão da centralidade da TV no nosso país – indicou.

Linhares argumentou que, diferente do cinema, a televisão está dentro de casa, com outras distrações. Segundo ele, há uma concorrência pela atenção do espectador.

– É importante a forma como o país ouve. As pessoas não leem, têm que falar. Costumo dizer que a televisão é rádio com imagem. Por isto, o diálogo é tão importante nas telenovelas – observou.

Immacolata comentou ainda a “serialização” das novelas e a “telenovelização” das séries. Linhares acrescentou que a presença de plataformas de streaming e de novos produtos nos dias atuais faz com que o público seja segmentado e diversificado.