Malu Carvalho com a colaboração de Clara Behrens

Cláudia Kopke conversa com os alunos de Comunicação sobre as produções de figurino que fez para o audiovisual. Crédito: Malu Carvalho

Cláudia Kopke conversa com os alunos sobre as produções de figurino que fez para o audiovisual. Crédito: Malu Carvalho

A figurinista de “Ainda Estou Aqui”, Cláudia Kopke, conversou com alunos da disciplina Comunicação e Moda sobre o papel do figurino na construção narrativa do cinema, no dia 10 de abril. Os alunos de Estudos de Mídia e Jornalismo puderam descobrir alguns detalhes da produção do longa-metragem vencedor de Melhor Filme Internacional do Oscar. Cláudia compartilhou bastidores de projetos em que trabalhou e destacou os desafios e processos criativos que envolvem a criação visual de personagens.

Cláudia participou da elaboração dos figurinos de “Cazuza – O Tempo Não Para”, “Tropa de Elite” e “Paraísos Artificiais” e explicou como a roupa é uma forma de comunicação não verbal, responsável por traduzir o roteiro em imagens visuais. Segundo ela, o processo tem início na leitura do roteiro, momento em que já se começa a imaginar os personagens e os estilos de cada um.

– Em “Ainda Estou Aqui”, esta etapa durou quase um ano. Nos chamaram para conversar sobre orçamento, depois tivemos reuniões com os cabeças de equipe e com o Walter Salles. Quando começamos a gravar também foi um processo longo, porque o filme foi e voltou de São Paulo – revelou.

Cláudia detalhou a pesquisa realizada para recriar o estilo dos anos 1970. Sem fotos iniciais da personagem Eunice Paiva, ela se baseou em referências visuais da época, como fotos de famílias em cidades litorâneas e arquivos históricos. Um exemplo marcante foi a criação da prancha visual de Veroca, uma das filhas de Eunice e do ex-deputado Rubens Paiva, que usava uma camiseta básica com tie-dye e crochê feito por uma tia, reconstruída a partir de memórias afetivas.

A figurinista também falou sobre os cuidados ao selecionar roupas para os figurantes e das dificuldades para filmes que retratam alguma época específica, como décadas passadas e momentos históricos. No filme, foram cerca de 200 figurantes, mas apenas 80 tiveram o figurino aprovado. Ela destacou que características como cabelos brancos ou tatuagens visíveis precisavam ser evitadas para manter a verossimilhança com a época retratada. Para a construção do guarda-roupas das personagens, Cláudia costuma garimpar em brechós e lavar ou envelhecer as peças para que pareçam usadas.

– A maior dificuldade para filmes como este são os materiais. Você não acha muita coisa, as peças vão se deteriorando. Temos que achar o material e tentar nos adequar a ele. Temos pouquíssimas coisas, principalmente no Rio de Janeiro. Somos guerreiros, nos viramos com o que tem – contou.

Além das curiosidades de bastidores do figurino, Cláudia explicou como a logística tornou a experiência de filmar “Ainda Estou Aqui” única. As gravações foram feitas em ordem cronológica e em 35mm, com os rolos enviados semanalmente à França para revelação. Ela também ressaltou a importância do trabalho conjunto com outros departamentos do longa, como arte, caracterização, direção e fotografia, e citou o diretor Walter Salles ao dizer que o cinema só existe “se todas as pessoas envolvidas estiverem na artéria do filme”.

A figurinista tira dúvidas de alunos sobre como entrar no mercado do figurino. Crédito: Malu Carvalho

A figurinista tira dúvidas de alunos sobre como entrar no mercado do figurino. Crédito: Malu Carvalho

Ao fim da palestra, Cláudia respondeu a perguntas sobre sua relação com marcas de moda, o equilíbrio entre fidelidade histórica e expressão artística e os conselhos para iniciantes na área de figurino.

– O figurino esbarra na moda, mas é outra coisa. É preciso estudar, observar e, acima de tudo, entender a alma do personagem. Às vezes é preciso ter maturidade de acatar o que o personagem é, por mais que você tenha planejado explorar mais a moda – afirmou.

A aluna do 5° período de Estudos de Mídia Luisa Janing considerou a palestra como uma oportunidade de conhecer detalhes de bastidores de um mercado que nem sempre está ao alcance dos estudantes. A estudante destacou que a troca de conhecimento com a profissional que participou de produções tão importantes para o cinema nacional fez com que fosse possivel entender ainda mais este universo.

– Foi enriquecedor. Ela é uma pessoa com muita experiência e participou de produções muito importantes. Foi ótimo entender não só o papel do figurino em uma produção, mas também a importância dele para quem participa e assiste – comentou.

A trajetória de Cláudia começou com a marca autoral “Transfigura” nos anos 1980, passou pela produção dos uniformes do primeiro Rock in Rio até chegar a grandes eventos como a abertura da Olimpíada do Rio, em 2016. A figurinista contou que, no início da carreira, aproveitar as oportunidades e estar bem preparada para se destacar foi essencial para que ela continuasse no ramo.

– Tudo que vemos e temos na memória é material, não dá para ficar só em sala de aula. Tem que estudar, ir ao cinema, teatro, espetáculos, museus. Isto imprime um universo que você vai usar em algum momento da vida. Tem que se empenhar e mostrar que gosta de roupa, que se interessa e que tem estudo – reforçou.