A professora Claudia Sarmento (PPGCOM/PUC-Rio) e a jornalista Ana Lucia Azevedo no ResenhaCOM de agosto. Crédito: Brenda Gusmão.
As transformações no jornalismo ambiental guiaram o primeiro ResenhaCOM do semestre. Professora visitante do PPGCOM/PUC-Rio, a pesquisadora Claudia Sarmento recebeu a jornalista do jornal O Globo Ana Lucia Azevedo no dia 26 de agosto para debater os desafios de reportar a crise climática e as expectativas em torno da COP30, que será realizada em Belém, no mês de novembro.
Quais os desafios de reportar a crise climática?
Claudia Sarmento: Durante muito tempo o público pensava na crise climática como algo distante. A ciência comprovou e os eventos climáticos extremos são evidências de que esta crise está em nossas rotinas e afeta a todos nós. Além disso, ainda reproduz as desigualdades estruturais da sociedade. É um tema ancorado na ciência, e traduzi-lo é uma tarefa muito complicada. Ouvir as pessoas que são afetadas é outro desafio que exige o bom e velho jornalismo, a reportagem. Um terceiro problema é a desinformação climática, potencializada pelas redes sociais e pela polarização política, que também afeta a cobertura, em uma tentativa de diminuir e desacreditar o trabalho da imprensa e da ciência.
Em mais de três décadas de jornalismo, quais foram as maiores transformações que você percebeu na cobertura ambiental no Brasil?
Ana Lucia: Ela teve ciclos de interesse. Ninguém prestava muita atenção até a Rio-92. Com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, no início dos anos 2000, houve um novo momento de interesse. Depois veio um problema da própria mídia, que encolheu em função de outros fatores. Nos últimos anos, tivemos uma sucessão de secas, chuvas e ondas de calor no mundo inteiro, e o interesse voltou. No Brasil, a pauta foi sequestrada pela incompetência de Belém em se preparar para receber a COP30. Em vez de debater crise climática e transição energética, como o resto do mundo, estamos discutindo a falta de hotel em Belém. A cobertura ambiental flutua, mas é um assunto que veio para ficar, e não tem uma editoria específica: é transversal, está em qualquer assunto. Se você está vivo, o clima te importa.