Brenda Gusmão

O jornalista Fábio Gusmão conta detalhes da série de reportagens que inspirou o filme “Vitória”. Crédito: João Gustavo Cota
O jornalista e escritor Fábio Gusmão esteve na PUC-Rio, na quarta-feira (30), para conversar com alunos de Comunicação sobre a série de reportagens que deu origem ao livro “Dona Vitória Joana da Paz” e inspirou o filme “Vitória” (2025), estrelado por Fernanda Montenegro. Convidado pela professora de Teorias do Jornalismo Aline Novaes, o editor-executivo do jornal Extra contou em detalhes os bastidores da denúncia feita pela idosa que filmou da janela de casa a rotina do tráfico de drogas da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Durante a palestra, Fábio também relembrou a trajetória como repórter policial e destacou a importância da escuta, observação e ética na apuração de grandes histórias.
As fitas VHS deixadas por Joana Zeferino da Paz na Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil marcaram o início daquela que Fábio definiria como a “história da sua vida”. O jornalista contou que, mais do que imagens do tráfico, o que chamou sua atenção foi a narração da idosa de 80 anos, indignada com a violência à volta. Ao longo de um ano e cinco meses, ele investigou a origem das gravações, localizou Joana, acompanhou a rotina e intermediou a entrada dela no Programa de Proteção a Testemunhas.
Para o jornalista, o tempo de apuração e a cautela foram essenciais para garantir a segurança da fonte e o sucesso do trabalho. Publicado em agosto de 2005, o caderno especial “Janela Indiscreta” recebeu os principais prêmios do jornalismo brasileiro, entre eles Esso, Imprensa Embratel, Tim Lopes e Direitos Humanos, além de menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog.
– Tem que ter sensibilidade para perceber que o que está se passando na sua frente é algo inédito e de grande impacto. É por isso que eu faço essa brincadeira no início, de mostrar as filmagens com som baixo e som alto. Por quê? Eu preciso que vocês entendam onde está a história. Da janela para fora ou da janela para dentro? O Otávio Guedes (editor do Extra à época) é muito feliz quando escreve isso no prefácio do livro. Eu percebi que a história era ela, por isso que se tornou algo tão poderoso.

Alunos lotaram a sala K-102. Crédito: João Gustavo Cota
Com a ampla repercussão do caso, o jornalista decidiu transformar as reportagens em livro. “Dona Vitória da Paz” foi relançado recentemente como “Dona Vitória Joana da Paz”, com novos desdobramentos e informações sobre a vida da moradora da Ladeira dos Tabajaras após a publicação das matérias e da entrada no programa de proteção. A grande novidade está na inclusão do nome Joana Zeferino da Paz no título e no decorrer da obra. A revelação da identidade da idosa só ocorreu após a morte dela em fevereiro de 2023. A história também chegou ao cinema com o filme “Vitória”, idealizado por Breno Silveira e dirigido por Andrucha Waddington. Na adaptação, Joana vira Nina e é interpretada por Fernanda Montenegro, e quem dá vida a Fábio é o ator Alan Rocha.

Exemplares do livro “Dona Vitória Joana da Paz”. Crédito: João Gustavo Cota