
A diretora Maria de Médicis esteve na K102 para conversar com alunos do DCOM sobre “Beleza Fatal”. Crédito: Brenda Gusmão.
Por trás do sucesso de “Beleza Fatal”, primeira novela brasileira da plataforma Max, está a diretora Maria de Médicis. Depois de três décadas com trabalhos para a televisão, ela está em uma nova fase no streaming com a produção que alcançou o primeiro lugar de audiência em 15 países. A diretora veio à PUC-Rio para um bate-papo, no dia 5 de junho, a convite das professoras Letícia Hees, Bruna Aucar e Tatiana Siciliano. No encontro, que uniu graduação, pós-graduação e mercado, Médicis destacou as particularidades das produções para diferentes meios e refletiu sobre os desafios da direção. A diretora também compartilhou vivências do set de filmagens e abordou a influência das transformações culturais e tecnológicas na linguagem melodramática.
Você foi uma das primeiras mulheres a dirigir novelas na TV Globo. Como esta experiência moldou o seu olhar na construção de personagens femininas fortes em “Beleza Fatal” e na teledramaturgia em geral?
Quando comecei, realmente eram pouquíssimas mulheres diretoras. Uma das questões que a gente mais trouxe foi a de enriquecer as personagens femininas. Começamos a discutir mais com os autores sobre essa mulher multifacetada, contemporânea, que começa a ser atuante no mercado. A construção de personagens femininas fortes foi sendo moldada durante o crescimento do número de mulheres no audiovisual. Eu sinto que a gente faz parte desse processo.
O streaming permite uma liberdade maior para explorar temas mais dramáticos, ousados ou controversos? Isto influenciou “Beleza Fatal”?
Com certeza. O streaming permite a discussão de assuntos mais densos que não podem ser discutidos na TV aberta. Até porque, na televisão, se está falando para um público muito amplo e diferente. No streaming, você tem mais liberdade de falar sobre assuntos mais profundos, pesados e cenas mais picantes. A casa principal do melodrama é a TV aberta. Ele está começando agora a ser descoberto. Apesar de a gente ver o melodrama em “This is Us”, que é totalmente uma novela. “Bridgerton” é uma novela das seis. “Game of Thrones” é um melodrama puro. O melodrama está sempre presente, mas acho que a grande casa dele é a TV aberta.
A linguagem do melodrama tem sido utilizada no streaming, e “Beleza Fatal” é um exemplo disso. O streaming também influencia as telenovelas?
As séries têm influenciado muito a narrativa das telenovelas brasileiras ultimamente. A gente tem narrativas mais rápidas e toda essa questão da contemporaneidade de você não assistir a conteúdos longos. Isto afetou o melodrama. Antigamente, o Gilberto Braga escrevia cenas de seis, sete páginas. Hoje em dia as cenas são curtas, porque as pessoas não têm atenção para coisas muito longas. Acho uma pena. Antes, a gente tinha mais cenas de conflito. Os personagens entravam em cena, o conflito se estabelecia, começava e se resolvia. Hoje, você entra no meio do conflito porque não tem mais tempo, que é o TikTok. Você tem que ver uma informação atrás da outra. Isto é muito prejudicial. Fico muito triste de ter acontecido.
O que você diria para jovens estudantes que querem ser diretores?
Leiam. Vão a exposições, ao cinema. Vejam filmes brasileiros, vejam filmes de todos os lugares. Se alimentem. Acho que isto é o mais importante: se alimentar de muitas referências. Para quem quer escrever, dirigir, ser diretor de arte, figurinista, fotógrafo – qualquer função no audiovisual – é fundamental ver muito, ler muito, ouvir muito. Todas essas referências visuais e sonoras alimentam o nosso trabalho.
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