Brenda Gusmão

Jornalista e pesquisador Pablo Morales realiza grupo focal com estudantes. Crédito: Carmem Petit
A influência da China no cenário global foi o tema que guiou a conversa do jornalista argentino Pablo Morales com alunos da disciplina Laboratório de Jornalismo II, no dia 6 de maio. Convidado pela professora Carmem Petit, ele participou de uma aula para discutir as estratégias de comunicação da China para a América Latina e compartilhou experiências nos veículos estatais Rádio Internacional da China e Diário do Povo Online. Pós-doutorando pela Escola de Economia de Londres (LSE), o jornalista também realizou um grupo focal com estudantes da PUC-Rio com o intuito de investigar para sua pesquisa a visão dos jovens sobre o país asiático.
O início dos anos 2000 foi marcado por uma nova fase da abertura econômica da China, com a adoção da estratégia “going out”, voltada à internacionalização de empresas. Nessa mesma lógica, a nação asiática lançou na mesma década uma estratégia de comunicação global com o objetivo de combater discursos negativos na mídia hegemônica internacional e reforçar a própria versão da história chinesa. De acordo com Morales, o jornalismo assumiu um papel central na formação da identidade do povo chinês e a percepção no mundo.
– Há uma concepção do papel do jornalismo na sociedade chinesa como algo muito central. Os veículos de comunicação são considerados parceiros do governo na construção da nação. As informações publicadas devem levar em conta o impacto na estabilidade da sociedade. Várias mídias são públicas e controladas diretamente pelo governo, mas também há mídias privadas desde os anos 1990. Ainda assim, existe uma espécie de controle editorial sobre o que vai ser publicado.
O jornalista ressaltou três ações do governo chinês para fortalecer a comunicação na América Latina. A primeira foi criação de veículos de comunicação próprios que transmitem internacionalmente, como a CGTN, a Rádio Internacional da China e o Jornal do Povo. Já a segunda, foi o estabelecimento de parcerias com mídias locais, como a BandNews, no Brasil, a Televisão Pública, na Argentina, e a Rádio Cooperativa, no Chile. Por fim, o governo tem convidado jornalistas e influenciadores para irem à China conhecer o país e a sua cultura como uma maneira de inspirá-los a se especializar na cobertura da nação. O pesquisador ainda comparou as culturas jornalísticas dos países latino-americanos e da China.
– A cultura jornalística ocidental pode enxergar o controle editorial chinês como uma forma de censura. Para nós, o controle do tipo de informação que vai ser publicada é uma forma de censura. Apesar de América ser um continente com muitos países e culturas diferentes, tem-se, no jornalismo, um olhar muito próximo aos Estados Unidos, que é mais crítico e considera a mídia como o “quarto poder” responsável por escrutinar o governo, criticar o que deve ser criticado e apontar problemas sem pensar em se censurar.